segunda-feira, outubro 31, 2005

apelando à paz


a paz voa e pousa, é livre *

EU ESCOLHI A PAZ ! MY CHOICE IS PEACE ALL OVER THE WORLD!

PAZ -PEACE - PACO- PACE- PAIX- SHALOM- SALAAM- SHANTY- - 평화 - Мир - 平和 - Ειρήνη - 和平 -SELAM VREDE- PAKE - HETEP- RAHU - ASHTE - IRINI - HEIWA - SULH - MIR
PHYONGH'WA - EMIREMBE - PACI - FRED - SULA - POKOJ - PASCH - MIERS- UKUTHULA


CopY/Paste and put in your site/blog.Thank You.

quarta-feira, outubro 19, 2005

pauta quebrada

...


Aquele velho ritual de prender um bocadinho de vento na mão
aquele vento que não se prende
que passa entre as folhas
e nos toca docemente
doce frio

Aquele doce quente de olhar o céu
aquele céu com nuvens
e das nuvens fazer cavalos
peixinhos que se beijam no mar azul celeste
bonecos que perdem as pernas pelo caminho
mas que voam
e vão abraçar-se aos bichinhos fofos
imperceptíveis aos olhares frios

Ode à liberdade de visão
hino ao poder de criação

Sermos deusæs
não para dirigir orquestras
mas para inventar novas figuras musicais

Vaguear pelo imenso
na vaga incerteza das coisas dadas
e com aquela infantilidade reprimida
soltar gargalhadas, fazer cócegas,
tocar o limiar da loucura

Deixar formas, criar laços
com o vasto aroma da liberdade
pintar sonhos
doá-los aos cantos do infinito

Cantar povos e lendas e amores
e recolher a apara do lápis
para que outr@s se enamorem
e se beijem
e nos cantem outros povos e lendas e amores

Sorrir com doçura de criança
ou amar sem pretensão de resposta
ou correr pelos campos brancos de pombas brancas

Imitar uma abelha
uma margarida
um pôr-do-sol

Ronronar num colo fofo
fazer cafuné à lua
tomá-la na ponta dos dedos e jogar berlinde

E aí abandonamos o medo.

O segredo é molhar os olhos
para que jamais percam o seu brilho
e acender o rastilho do sol
para que nos sirva de cobertor.



O resto é amor.

domingo, outubro 16, 2005

um reflexo do que me fazes ser

desta vez o texto é mais longo, com mais influências de parede: "tanto que dizer... e tanto silêncio...", praça filipa de lencastre; "amar es el empieze de la palabra amargura", talho de cedofeita; "o meu abraço tem a forma do teu corpo", teatro carlos alberto.



um reflexo do que sou



Há momentos em que não entendemos o silêncio. Temos esse direito. Aqueles pequenos sons que nos passam entre os dedos vão fluindo melancolicamente através do tempo. Não são cães, nem carros, nem vozes, nem folhas de árvores – basicamente porque não nos apercebemos, porque focamos a objectiva para o não-ser que existe no meio de tudo.
Depois lembramo-nos do nada e até nos apetece viver lá. Porque no nada flutuamos como os sons, não há corpo que se nos sobreponha, não há ilusão que nos fira ou espírito que nos corrompa. Somos, simplesmente.

Mas o nada parece tão vazio, tão desprovido de tudo… De que adianta alhearmo-nos na sombra da noite, debruçad@s na janela do quarto, a ouvir o vento passar? Não nos alimenta, nem nos faz sentir vivos ou úteis… E o tempo flui, ao seu ritmo, sem nos tomar por notas ou pausas musicais.

Há tanta raiva subjacente à calma que aparentamos… “tanto que dizer… e tanto silêncio…”

Queres que te conte uma história? Que te ponha um “Era uma vez…” a meio do discurso, mesmo sabendo nós que esses vastos mundos hipotéticos ou condicionais ainda nos vão doer mais que a visão do vazio?...
Não te deixo. Seria demasiado fácil e contundente para as expectativas do mundo.

“Amar es el empieze de la palabra AMARGURA”

… e sinto tanta raiva… daquelas que estão entranhadas na pele e na língua, e na retina dos olhos, e no sal das lágrimas. Daquelas que escondo, camuflada por sorrisos conscientes do seu fundo impróprio. Como se fosse um beijo interrompido por um abrupto silêncio, incomodativo, com mau sabor, de uma agressividade latente sem escrúpulos ou limites…
Mas é assim que te amo. Sem escrúpulos ou limites, de forma interrompida, silenciosa, incomodativa, agressiva e com o sabor mais agreste de que a natureza me poderia cobrir.

Tens o espaço e o tempo, não tos roubo. Volto ao vazio, à amargura solitária de quem ama mas não te sente, te procura e te encontra longe.

O teu corpo tem a forma de outros braços, não dos meus. O meu corpo é permanentemente amorfo, qual estabilidade aparente…

O sol foi-se embora. Vai nanar, meu amor… Cobre-te de lua e de estrelas, noite dentro. Fico de longe a cantar-te o silêncio, a dor cobre-me e tira-me o frio, a raiva aquece-me as mãos. Caminharei até os pés aquecerem, sangrados, à procura da tua imagem algures no sono.

Estou demasiado nua, desculpa-me a ousadia… Não quero que me toques, seria ultrajante. As palavras escorrem pelo meu corpo como gotículas de suor, e permaneço fria. Os sonhos palpitam a uma velocidade estonteante, fazendo com que o meu peito não caiba nas suas próprias dimensões. Os braços alongam-se e vão estreitando até deixarem que os dedos toquem o nada, paralelos às contracurvas do meu corpo… Pés pequenos, doridos, em ferida. Pernas flácidas, curtas demais para a distância que nos separa.

Que corpo insuficiente para ocupar o teu espaço…

Mas esta sou eu, nua e crua, alojada no vazio dos olhos por que passamos.

Dou-te os meus olhos, têm palavras mais puras que os meus dedos.
… Não os queres ver? Pena…

Mas deixa lá, não faz mal. Conformei-me na melancolia das coisas simples, das músicas feitas, das palavras previsíveis, dos olhos fechados.

Vamos dançar, o mundo é nosso e somos pequenin@s! Que a alegria é irmã da melancolia…


Um beijo no meio do sempre*

sábado, outubro 08, 2005

monólogo de uma actriz enquanto se maquilha




Vou fazer o papel de uma bêbeda
Que vende os filhos
Em Paris, no tempo da Comuna.
Tenho apenas cinco réplicas.

E preciso de me deslocar, de subir a rua.
Caminharei como gente livre
Gente que só o álcool
Quis libertar e voltar-me-ei
Como o bêbedo que receia
Ser perseguido. Voltar-me-ei
Para o público.
Analisei as minhas cinco réplicas como os documentos
Que se lavam com ácido para descobrir sob os caracteres visíveis
Outros possíveis caracteres.
Pronunciarei cada réplica
Como a melhor acusação
Contra mim e contra todos os que me olham.

Se eu não reflectisse maquilhar-me-ia simplesmente
Como uma velha beberrona
Doente e decadente.
Mas vou entrar em cena
Como uma bela mulher que guarda a marca da destruição
Na pálida pele outrora macia e agora cheia de rugas
Outrora atraente e agora repelida
Para que ao vê-la cada um se interrogue: quem
Fez isto?


Bertolt Brecht