tag:blogger.com,1999:blog-91315412024-03-07T07:05:57.164+00:00rebelonyarebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.comBlogger200125tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-2318842802540697382016-12-31T03:48:00.000+00:002016-12-31T03:48:54.103+00:00Viso<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Escadas, escadas e escadas. As primeiras eram mais sombrias, subiam-se a correr - excepto a partir do dia em que a Alicinha me parou para oferecer flores do seu quintal, umas horas depois de me ter visto a arrancar uma daquelas florzinhas que cabiam nos dedos para fazer de conta que era um anel. Um lance, cheiro forte a lixívia - e paro na Gininha, ainda hoje parei, ó minha filha estás tão crescida e linda, és igual à tua mãe, ano bom, querida! Mais um lance, cada vez mais silencioso, outro, e estamos em casa.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Cresci com uma bicicleta amarela herdada do primo de França, não tinha travões, o que me deu o mau hábito de sair em andamento e deixá-la travar no muro mais próximo. Era o seguimento das garagens, as garagens dos carros, das plantas e das mesas postas com o portão aberto na noite de São João. O muro dava para a casa mortuária, por isso às vezes a bicicleta assustava algumas pessoas cabisbaixas, vestidas de preto, que olhavam para mim sem me verem e murmuravam uma semi-oração-semi-rabugice. Aí andava ligeirinha mas suave, suava para arrastar o portão e guardar a escandalosa, e como o portão também não era discreto, a avó ouvia e redobrava a atenção para o meu regresso.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Escadas, escadas e escadas. A meio caminho de cada andar há uma espécie de varanda - em miúda perguntava-me porque é que no nosso prédio ninguém punha lá uma mesinha, para ler ao sol - e eu tentava abrandar o passo para perceber, de ângulo mais elevado, o que se passava do outro lado do muro. E a cada abrandamento - Ana Inês! - pois, acelera.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Enérgica, infinitamente enérgica. A casa está sempre a superar o impecável mas, aos seus olhos, pode sempre melhorar. Ó 'vó, estás a arrumar outra vez?, ainda ontem se arrumou! - Anda dar-me uma mão que tive uma ideia durante a noite, mas não contas a ninguém! - e lá mudávamos a ordem dos móveis, ou lá guardávamos as coisas para novas obras, para a casa crescer e respirar. De todas as que me lembro, nunca contei a ninguém.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A cozinha. Janela aberta nas quatro estações (faz frio no Porto?), o vapor é muito. O cilindro que obriga a disciplinar o banho e logo ao lado o fogão. Café de assentar, a mistura da Sanzala acrescentada de café puro, a banca sempre a cheirar a café, guardado na parte de baixo. A cozinha sempre foi pequena e nunca percebi como é que de lá saía tanto doce de tomate e marmelada, os cheiros do outono. Esses e os pratos todos que guarda a memória portuense - e lisboeta, e parisina. É uma casa modesta dos anos 50/60, cabemos dezenas lá dentro há várias gerações, e aposto com o infinito que nenhum lá-passante esqueceu o momento em que fechou os olhos e saboreou as pataniscas, as tripas, a cabidela ou até a parmigiana de chèvre, quando a neta mais velha se lembrou de virar vegetariana.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao fundo do corredor uma porta para o sótão, encimada pela foto de uma miudinha sentada num muro/banco a comer e a conversar com o avô que, paciente, assobiava. O avô que, sem desprimor para o resto da humanidade, veste com a maior elegância masculina do mundo - sobretudo nos dias de lenço ao pescoço. Terá refinado a arte durante a venda de fazendas, quando visitava tantos alfaiates. A mala da carrinha tinha sempre malinhas mágicas com pequenas amostras, cortadas em ziguezague e organizadas como um livro de páginas ligeiramente sobrepostas, ou então os longos rolos de peças inteiras, depois de a fazenda já ter sido escolhida. Nesse tempo isento de cadeirinhas e cintos de segurança, o meu lugar era ali no meio da fazenda, ia tocando levemente para perceber qual a mais macia e inventando histórias dali ao armazém dos Lóios, ou dali aos Telefones, ou dali para qualquer canto do mundo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E, quando voltávamos a casa, depois de tudo o que era preciso estar feito, tempo para ler. Nunca houve uma estante proibida, o que acabou por ser complicado, porque a Manhã Submersa pelos oito ou nove anos (seriam mais?) é indigesta e deixou-me uma pedra na porta do existencialismo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Mudaram-se as janelas, algumas paredes, algum recheio, manteve-se a porta de madeira com as suas trincas e trancas de bairro - e, nas traseiras, vivem agora os garnisés que o Sr. Paixão deu ao Quim, que por serem do Sr. Paixão não quer matá-los, e que aprenderam a dormir nos ramos de uma árvore para se safarem dos cães.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E, lá em casa, rijos e infinitos, os meus avós.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-11353449386251235352015-11-01T19:57:00.001+00:002015-11-02T15:44:12.688+00:00PDL<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAZ4-GQwzN_H3x56hCz9-0PfQDMBU0QpYk94r5fF3x4LeOdho_pHPrc4vpspEfM233CW0_BEKCx27tYyOk-anWYDjzoR4r6Z9iriuqnomX5jyhUR0U84p6Cw3aDjTuuxzg1Skh/s1600/PDL.jpg" imageanchor="1" style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAZ4-GQwzN_H3x56hCz9-0PfQDMBU0QpYk94r5fF3x4LeOdho_pHPrc4vpspEfM233CW0_BEKCx27tYyOk-anWYDjzoR4r6Z9iriuqnomX5jyhUR0U84p6Cw3aDjTuuxzg1Skh/s320/PDL.jpg" width="320" /></a><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="text-align: start;">Quarta-feira. Os meus pulmões rangem de fumo. Voltei a acordar às 4h, com um pesadelo. As grades não me saem da ideia, nem a meio da semana. Deixei uma garrafa à cabeceira, para acelerar o sono em noites destas, mas hoje nem assim consigo.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Ela dorme. Na mesma posição há 12 anos, com o mesmo pijama, já desbotado de tanta água. Dorme como se não se passasse nada, como se a noite fosse tempo livre feito para dormir.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Apetecia-me acordá-la, encostar-me duro a ela até que acordasse, mas ia ficar chateada, discussão e dor de cabeça. Já veio para a cama depois de mim, há umas duas horas, que o miúdo não queria acalmar.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">O puto dorme mal. Não percebe porque é que eu saio ao fim-de-semana e vinga-se todas as noites. Custa-me demais e volto a sair, a ver se encho os miolos doutra coisa qualquer que não os berros deles os dois. Volto, eles calam-se, eu acordo.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Estou todo trocado. Ocupo o tempo todo com esta ideia cinzenta de ser criminoso em <i>part-time</i> e zero a tempo inteiro. De dia trabalho. À noite como com eles, discuto com ela, saio, bebo e volto a pé. Sábado de manhã vou para Monsanto e vivo na pocilga até segunda-feira de madrugada.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">À segunda e à sexta o clima é diferente. Temos saudades ou temos medo. Berramos mais, mas não nos largamos. Ela faz bife, traz-me bolo, acorda-me com um sorriso meio tremido. Mas as quartas são de sopa e restos aquecidos.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Aquele cheiro, pior que bafo depois da noite mais passada. É tão podre. Não percebo, nem deve ser suposto. Um gajo é preso em <i>part-time</i> para sentir, ao fim-de-semana, que fez asneira da grossa. É preso para sentir a prisão, porque ao fim-de-semana não há cá prisões que nos ensinem a não cair. Psicólogos, assistentes sociais e gente dos cursos não trabalham ao sábado e ao domingo. Ir dentro ao fim-de-semana é garantir que nos enjoamos o suficiente nos dias livres e ficamos a pensar nisso o resto do tempo.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">A única cena que me fazia sentir livre era o ar na cara, ao andar de mota. O ar na cara tirava-me as outras ideias, o berreiro, o vómito do dia-a-dia. O mais depressa que pudesse. E em Monsanto era bom, porque passava pouca gente, e se fôssemos depressa depois da chuva o cheiro era brutal.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Bati uma vez numa árvore e eles apanharam-me tudo: sem carta, sem seguro e bebida a mais. Virei-me contra um dos polícias. Ela vendeu-me a mota durante a preventiva. Ao fim-de-semana volto a Monsanto, para perder o ar.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Um cigarro na varanda. Não fumo na cama desde que fui pai, mas apetecia-me. 4h20. Não há noite viva, não há dia, o tempo que tenho livre é uma merda vazia. Carros na via rápida e chuva miúda, nem os melros se ouvem. </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Mas fumo. Enquanto fumo, respiro. O fumo é meu. Dentro. E fora.</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: start;">
<span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: x-small;">A partir da foto de Luís Barra e da notícia de Hugo Franco e Joana Pereira Bastos, "<a href="http://leitor.expresso.pt/#library/expresso/semanario2244/expresso-2244/sociedade/509-portugueses-presos-em-part-time">509 portugueses presos em <i>part-time</i></a>", sobre prisão por dias livres, no Expresso de 31 de Outubro de 2015.</span></span></div>
rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-48233402104246855832015-08-04T10:38:00.001+01:002015-08-04T10:45:24.583+01:00Enquanto cresces<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O pólen voa entre as flores</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de pétalas abertas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">num rodopio de cores descobertas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">como as da manta que te aguarda.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Estás quase aqui, não tarda</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">serás como os frutos</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que nestes meses crescem</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e amadurecem sob o sol.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Aguarda-te o nosso colo</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">onde serás sempre criança.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Por enquanto, a mãe dança</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">ao som do teu sonho</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e o pai veste esperança</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">sobre o futuro risonho.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Anda lá, cresce,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">vem com calma no tempo certo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Terás os nossos braços por perto</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e a vida toda para sonhar. </span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Vem forte como a onda,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">inspira como a floresta,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">sê tudo o que desejares</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">no que a vida te empresta.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-46549736241800284022015-08-04T10:31:00.004+01:002015-08-04T10:45:52.437+01:00Primavera<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">É hoje o tempo</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de dançarmos como o vento</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que abranda sobre o mar.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">É hoje o dia</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">para forrarmos de alegria</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">a casa a desabrochar.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-81438500158649311162015-08-04T10:28:00.000+01:002015-08-04T10:46:14.800+01:00Des-solidão<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No frio de Novembro,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">se bem me lembro,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">os tempos batiam cinzentos</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de habitual dia-a-dia.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Até que o normal virou magia,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">o frio virou relento</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e, à nossa volta,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">uma imensidão de estrelas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma das memórias mais belas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">para sempre:</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">aquela notícia quente,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">maior que todos nós.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nunca mais estaremos sós.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-69452686998878236952015-02-20T14:03:00.000+00:002015-02-20T14:08:33.388+00:00Os nostálgicos das 5h30 da tarde<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nesta rua tão lisboeta,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">uma escola de um lado<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e, do outro, uma velhinha atrás da janela fechada.<o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">As crianças saem, mascaradas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Toda a menina é princesa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e os meninos são o que lhes apetecer.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A senhora está só e olha-os.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Não sei se os vê.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A sua cara tem muitos vincos marcados,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">talvez tantos quantos os filhos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">netos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">paixões<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">todos eles longe, e ela sozinha.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Entre a senhora e as crianças,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">a estrada de Benfica<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e as numerosas pessoas que aguardam<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">na paragem do autocarro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E ninguém se vê,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">as crianças correm e brincam sozinhas,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">os adultos olham o chão sozinhos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Só a senhora os observa. </span><o:p></o:p></div>
rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-2457643001700197672014-06-25T14:25:00.000+01:002014-06-25T14:33:48.749+01:00EcoFemina em bicicleta<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">As mobilidades eram um dilema. Os representantes das imobilidades, ainda mais. A cidade era a inspiração perfeita para a contestação. Tentando fugir da sombra e erguer o corpo pelos direitos da pessoa na terra que habita, EcoFemina decidiu passar para o lado do sol. Testou a bicicleta. Colocou o suporte de vida em dois alforges de lona tipo militar, comprados na Rua Escura. Apanhou boleia até à Costa Vicentina e daí continuou sobre duas rodas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Enquanto seguia de carro, rumo ao sul, os pensamentos esbranquiçavam. Na perspectiva mais optimista, meditava. Na perspectiva mais realista, apercebia-se de não saber o que ia fazer, apagava o registo, panicava e voltava a aterrar - enjoada, como sempre, por andar de carro. O automóvel desde muito cedo a enjoara, com todas as curvas, apertos, cheiros e incapacidades de controlar o percurso. A essa data, EcoFemina ainda não conduzia. Para não ser conduzida por outros devia seguir o percurso a pé ou em bicicleta. Esse era o indispensável, sacro passo do empoderamento pessoal: tomar conta de si, decidindo o momento de partir, os passos a dar e o alcance do seu próprio movimento.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">ILUSÃO: acreditar/projectar uma ideia não verdadeira. Exemplos: acreditar que, dois anos depois de não fazer qualquer exercício físico por salvaguarda de saúde, uma pessoa pode pegar na bicicleta e seguir caminho, "incólume e segura"; pegar na bicicleta, seguir caminho, com os bafos de fora e o pé torto, perguntar a um autóctone quanto dura aquela subida (o Alentejo não era plano?) e acreditar nos ditos 200 metros; dois quilómetros depois, rejubilar com uma descida, largar os pedais, acelerar por inércia, subir a seguinte com o balanço da anterior e acreditar que a corrente, os travões e as velocidades continuam na maior; parar por se estranhar a solidão - teria sido, pela primeira vez na vida, mais rápida que o restante grupo? - e aí ver que a bicicleta estava estragada e que o grupo tinha parado devido a uma triste lesão. É melhor parar por aqui, que por vezes EcoFemina receia que a volta em bicicleta seja uma ilusão e não uma memória do verão de 2004.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A primeira coisa que EcoFemina enviou de volta para casa foi a tenda. Pesava 1,5kg e, quando o dia se punha, não havia força para montar tenda nenhuma. Na noite após o envio da tenda, naturalmente, choveu a potes. O abrigo possível foi uma escola primária em tempo de férias, que gentilmente abriram para que o grupo pudesse resguardar-se e utilizar uma wc-zinha com portas. Um verdadeiro luxo face às duas semanas de sono ao relento que se seguiram.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O momento do sono era engraçado, devemos admitir. EcoFemina sofria de insónias, mas não tanto nos dias em que estourava o corpo em andanças pouco habituais. Daí ser perfeitamente lógico que, num certo dia, EcoFemina tenha acordado com meio escorpião na barriga e sangue no saco cama, mas não na pessoa - a luta pela sobrevivência em tempos de sonambulismo ao relento! Ou então aquela vez em que chegaram a Lagos bem à noitinha, olharam para o parque infantil e saltaram para aquele chão mole que amparava a queda da infância - e ao raiar do sol, acordar com a magia dos sistemas de rega e dois cães de guarda com o dentinho bem próximo da cara estremunhada de EcoFemina. Mais simpático foi acordar e ver que havia uns dois centímetros entre o pé e o vazio; é que uma pessoa chega à noite, com pouca luz, e deita-se no terreno liso e acimentado junto à bina; e acorda de manhã no fundo de um telhado sem telhas, que afinal era inclinado, descendo desde o passeio. Antes ficar na areia! Passear quando nos dá na real gana e encontrar alemães filosóficos nas grutas da praia... acordar com a lambidela do boxer castanho, amigo de quatro patas de outros dormentes de praia... tomar o banho matinal em água salgada, deixar que o frio húmido nos acorde do verão quente.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Esse foi, efectivamente, o verão quente de EcoFemina, o seu 68/75. Poucas flores, muito suor. Em vez de flores, o verde - as descidas em que, sem esforço, podia desfrutar do cheiro das árvores por que passava, o vento manso no corpo rijo e na vegetação leve. E o azul - o refúgio no mar, sempre que era preciso ter mais força. Foi preciso todos os dias. O grupo era complexo, idealista e andava a tentar definir o "consenso".</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">CONSENSO: consentimento/aceitação de todas as partes numa tomada de decisão. Exemplos: num espírito de democracia directa, reunir o grupo todo, tipo assembleia, e discutir o que for necessário para seguir caminho; não sendo consensual o número de quilómetros a percorrer por dia, dá-se a seguinte exposição: "Pois eu quero fazer 70km por dia. Se o teu limite biológico são 35km, podemos chegar a consenso pelos 50km" e concluir que o limite biológico é uma abstracção negociável pelo princípio do consenso; em assembleia, considerando a pouca disponibilidade de dinheiro do grupo, decidir consensualmente que cada elemento juntaria os seus 5</span><span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">€ diários para comprar e partilhar comida, e depois ter vontade de ir à wc em horas pouco consensuais e, ao regresso, a comida já ter acabado; consentir que o consenso deva estar na base de entendimento do colectivo sobre rodas, que porém não consegue pedalar suficientemente depressa para fugir do conflito e vrrrrrrum! vai um berro entre as árvores, e vrrrrrum! vai um jacto entre camiões na N125, e vrrrrrrum! ... vai cada um ser consensual consigo mesmo, e o grupo acaba por seguir caminhos diferentes.</span></span><br />
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Em contexto de tal violência auto-infligida a título voluntário, a coerência acção-ideal também se vê posta à prova. Pois pensemos: Alentejo e Algarve, Agosto, 40 e picos graus, nem toda a gente acorda bem de manhã, seguimos sob o pico do sol... E ao longe um hotel. Os hotéis têm máquinas, EcoFemina tem sede. Vai sozinha, olha para a máquina e morre de amores: Iced Tea!! Dois, três seguidos, sem respirar, antes de se poder pensar que o Iced Tea é um refrigerante, e é da Nestlé, e a Nestlé... etc. E um hotel... uma cama, uma wc, família por perto, conforto, o carro que não magoa o pé, a comida sem se contar as garfadas... Sim, aceitou. Aceitou a refeição no restaurante, os pais vieram do Porto, era o seu 18º aniversário. Sim, aceitou mais tarde ir ter com mais família de coração, não fosse o caso do GPS mental nunca ter funcionado bem e perder-se em bicicleta, estourada, ansiosa, saudosa de um conforto menos exigente, menos livre, menos arranhado.</span></span><br />
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A viagem acabou com a bicicleta no correio e um gelado na mão. Chegou ao fim, foi uma das últimas quatro pessoas. Já não havia voz para gritar a vitória. As estradas de regresso não podiam ser as mesmas; já não tinham um bando jovem sobre rodas, já não havia EcoFemina em pseudo-bikini a atirar-se aos canais de rega, e a pele estava escura, e tinha pêlos que, quem não quisesse, não visse. Estava cansada, guardando no peito a prova de que não há impossíveis e no pé o peso duro de se realizar o que parece impossível. "Foi menina, veio mulher", leia-se pelo bilhete de identidade. Veio crescida. É que a viagem foi tão... onírica, meiguinha, fofinha, miminha, que só demorou dez anos a sair pelo papel.</span></span><br />
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span>
<span style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E não voltou a andar de bicicleta.</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="margin-top: 6.0pt; text-align: justify;">
<o:p></o:p></div>
rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-27074358299620098652014-06-09T12:11:00.001+01:002014-06-09T12:11:54.093+01:00II.<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Parco verde, árvore mansa,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">quais meus olhos, quais os teus?</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Duro silêncio em nós dança.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-73826989215398066542014-06-09T11:27:00.001+01:002014-06-09T11:27:58.768+01:00I.<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Vento, primavera fria.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Trovão, minha tentação</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">naquela manhã tardia.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-35973147388728635662014-03-21T11:28:00.000+00:002014-03-21T11:28:31.813+00:00(re)ciclos primaveris<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Há dois anos atrás cheguei a Bolonha para lá morar, pela segunda vez, e desenvolver a primeira parte empírica do doutoramento. Há um ano atrás voltei a Bolonha para a estreia do documentário que tinha sido possível co-realizar durante a experiência de investigação do ano anterior. Este ano arrancámos com um projecto coordenado por Bolonha, com participação portuguesa pelo meu grupo de trabalho, para apoiar o desenvolvimento de plataformas interculturais na Rússia.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<span style="font-family: Arial;">Perco estabilidade quando penso que há ciclos para concluir. Prefiro reciclar, recriar vida em cada célula que nos transmita vida. Creio que é isso, a primavera. Mais do que o alento de abrandar o frio, é a promessa do reciclo. </span><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<span style="font-family: Arial;">Pela primeira vez em alguns anos, estarei em Sintra, em Lisboa e no Porto durante esta semana. Mudarei de casa. Abdicarei de alguns objectos para que o novo pouso se renove. Tentarei simplificar, ganhando espaço e tempo.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<span style="font-family: Arial;">Que as sementes lançadas à terra fértil sejam sinal produtivo para todas e todos.</span><br />
<span style="font-family: Arial;">Bom reciclo primaveril*</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-64395749075400680232013-12-31T19:44:00.001+00:002013-12-31T19:44:23.158+00:00Ei-lo, o post de 31 de dezembro<span style="font-family: "Helvetica Neue", Arial, Helvetica, sans-serif;">Cliché bonzinho, escrever um post hoje. Estou a pensar nele há imenso tempo, mas sem saber o que dizer. Vai pouco ensaiado, bruto, cru, como se queira, mas vai. Vai com o ano.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial;">Entrámos em 2013 a cair das escadas. Depois houve viagens, lutas, milagres, muita força em quem se vê vulnerável. Demos a volta, estamos cá, juntos onde quer que seja. E as prendas: amigos novos pelo mundo, amigos antigos reencontrados, muito acolhimento em casas desconhecidas, um felino que nasceu este ano e veio provar que a nossa casa estava incompleta. Mesmo assim, a maior prenda foi a força que nos manteve a todos aqui.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<span style="font-family: Arial;">Que 2014 traga magia boa, ternuras, cura, concentração, mais momentos de música e de letrinhas, muito amor e amizade. Que o tempo, no ano que vem, seja o presente - e ganhemos o que precisamos para conquistarmos o medo, o sonho e o comando das nossas próprias vidas.</span><br />
<span style="font-family: Arial;"></span><br />
<span style="font-family: Arial;">Abraço apertado, mas com ar de sobra*</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-15964407361393650342013-07-29T23:51:00.001+01:002016-02-01T15:20:24.343+00:00Um dia, quando se vai viajar sós-solidários pela primeira vez<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">O meu dia foi no verão de 2006. Fazia 20 anos no dia 22 e partia dia 23 de madrugada. Não ía sozinha, mas iria ficar por minha conta. Para tal tinha de aprender uma língua nova, arranjar casa nessa língua e aprender tudo o que é necessário ao nível do desenrascanço tendencialmente autónomo.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Estava em pulgas. Queria sair do sítio há muito tempo. Queria ir para aquele sítio há alguns anos. Sonhava - e fi-lo tanto! - poder rir e chorar desalmadamente em ruas que me desconhecessem e me permitissem essa liberdade.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A festa de anos, no Porto, era sagrada. Nesse ano marcava a despedida. Sentia-me estranha; nunca tinha saído daqui por mais que uns dias. Era uma ansiedade esperançosa e amedrontada, um sorriso tremido de mala pronta há algum tempo, o mesmo sorriso nas caras adultas que me rodeavam. Tínhamos o código do "ninguém desfaz ou a forma cai", e ninguém desfazia, e a forma não caía. Estávamos todos bem.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A uma certa altura, os pirralhos - ainda eram pirralhos - dos meus primos chamaram-me para me darem uma prenda. Tinham escrito e ilustrado uma carta, no alto dos seus 11-12 anos, para me dizerem que a viagem ia correr bem, que gostavam de mim e iriam sentir saudades. Foi um soco abraçadíssimo em tudo o que eu era naquele dia.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A cozinha estreita na casa da Prelada não bastava para aquele rompante emotivo. Eles não percebiam, não queriam provocar aquilo, mas mais ninguém tinha aquela substância tão verdadeira em poucas linhas. Quem vai embora tem medo da saudade como a rocha teme a água que lhe bate sem tempo. A rocha não recua, a pressão não a demove, mas sabe que a água pesa e irá alterá-la. A sua forma será diferente, depois; parecerá mais esculpida. Assim faz a viagem na pessoa.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os meus primos não sabiam, nessa altura, que a honestidade fazia daquilo. Abraçaram-me durante algum tempo, como faziam antes, quando me viam assim. Os adultos dissiparam-se quase todos nesse instante. Ficou a baixinha à minha frente, a fazer com que me recompusesse e voltasse à sala, sem a carta.</span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Os minis cresceram muito. </span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;"><br /></span><br />
<span style="font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Esta carta torta foi escrita a pensar nos meus primos e dedicada à menina chilena a 29 de Julho de 2013. Hoje, 1 de Fevereiro de 2016, dedico-a ao menino catalão * boa viagem, baixinho!</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-58733552453842382092013-06-03T08:09:00.000+01:002015-02-20T14:05:58.403+00:00Os extravagantes das 5h30 da manhã<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">ousam calcorrear a rua escurecida.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Fazem-no sem qualquer pudor ou audição,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">compenetrados passo sobre passo,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">como se a rua fosse apenas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">extensão das suas pernas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Quando muito,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">dirigem a palavra à companheira do lado.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Vendo bem, quase só há companheiras</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">caminhantes nas ruas de Lisboa</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">às 5h30 da manhã.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Têm a pele escura</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e seguem rápidas e acaloradas,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de chinelos e mangas curtas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e o cabelo entrançado ou preso.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Levam sacas na mão,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">trocarão de roupa na chegada ao trabalho.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Pelas 6h o dia aclara</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e há menos transeuntes no passeio. </span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Passam apenas carros e carrinhas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O dia terá de aclarar ainda mais</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">para que pessoas mais claras</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">calcorreiem esta rua.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O dia aquece</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">mas elas trarão mais casacos e menos sacas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Virão em passo mais lento,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">aquele passo de quem usufrui </span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de um espaço já preparado.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-42924315993285096322013-06-02T19:29:00.002+01:002013-06-02T19:33:04.206+01:00O céu acinzentou<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">dentro dos seus olhos.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas todos deveríamos saber</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que aquele homem envelhecido,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">de pronunciada ruga na testa,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">quando era bebé</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">adormecia com festas entre os olhos.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Ele está curvado,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">as costas cederam ao cansaço,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">as mesmas costas que suportaram</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">o salto ao cavalo quando era miúdo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">As mãos tremem-lhe,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">espalham açúcar fora do café.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">São as mesmas que exploraram</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">o infinito corpo feminino na juventude.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Os braços fraquejam,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">já não têm potência,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">mas houve um dia </span><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">em que os braços choraram:</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">quando pegou no filho pela primeira vez.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><br /></span><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">08-05-2013, </span><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Lisboa</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-8613726964612537672013-04-30T12:17:00.004+01:002013-04-30T12:28:10.063+01:00EcoFemina (no quintal)<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Não me venham com tretas de que é fácil ser-se ecologista,
feminista, entre outros de activista, levar a vida tranquila e equilibrada e
ter sempre a cabeça no sítio. Em honra a tal dificuldade, vou tentar escrever
uns folhetins sobre EcoFemina.</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">EcoFemina vive na terra porque calhou, ainda que várias boas
pessoas digam que há um espírito semi-autónomo com alguma responsabilidade
nesse assunto. É Eco porque é da terra, sente ser mais terrena do que consegue
entender por palavras estudadas, gosta do mar e do ar para depois voltar a
descalçar-se e pisar a terra. Enquanto Eco vai aprendendo que cooperação e
competição existem em igual medida, que entre simbiose e parasitismo a
distância pode ser curta e que estas acções servem para responder a
necessidades fisiológicas ou tipo-existenciais como alimentar, desalimentar,
reproduzir, manter a vida e criar beleza que justifique aturar tudo o resto.
Isto em estruturas tendencialmente colectivas, ditas inter-dependentes, nas
quais tudo tem função, cresce para vir a ter ou vive dependente de quem tenha.
É Femina porque fêmea fica mal e feminina não é particularmente aplicável.
Evite-se o cor de rosa da questão, trazendo um bocadinho de bruto (em dias bons
diamante, nos outros pedra dura enraivecida) e a necessidade de bater o pé por
aquilo que continua mais distante do outro lado. Por isso, EcoFemina vive na
terra com corpo de mulher, lutando pela terra e pela mulher. Entre outros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<o:p><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">EcoFemina no quintal</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">São sempre fascinantes, os sonhos das crianças, sobretudo
quando não são formatados pela publicidade do natal ou pelas expectativas
familiares. Pois o sonho antigo de EcoFemina era voltar à terra que nunca
conhecera. Assim que pôde fugiu da grande cidade e procurou uma casa com
quintal, no meio do verde. Encontrou-a.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Em bom esquema de espelhos, casa e quintal demonstraram-se
tão brutos quanto EcoFemina: "dá para fazer muita coisa, mas é preciso
limar os cantos, dar-lhe forma e controlar-lhe o percurso". Com todos os
santinhos, esta receita nunca resultou. Estude-se melhor a questão, que a gente
interage com a natureza há uns bons aninhos e alguém há-de ter chegado a boas
conclusões sobre casas com quintais antes de EcoFemina; e estudou, ouviu
bastante gente, foi a formações e tentou, falhou, tentou outra vez, falhou
outra vez, tentou outra vez e esperou melhores resultados.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">FALHAR: agir sem obter o resultado pretendido. Exemplos: pôr
sementes à terra e vê-las a serem comidas por pássaros; cobrir sementeiras com
rede, ganhando aos pássaros, maravilhar-se com o crescimento da planta e vê-la
a ser destruída em dois dias por caracóis; dispor as plantas em modo tal que
afastem a maioria das pragas e cair um temporal que manda o puzzle todo abaixo.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Uma das coisas que a casa com quintal demonstrou a EcoFemina
foi que o equilíbrio ecológico é imprescindível. Mas não há receita única; é
preciso perceber a dinâmica do sítio e potenciar os factores de equilíbrio.
Trocando por miúdos: um dia, EcoFemina viu um rato. Sendo ela criatura urbanita
e vivendo o sonho neo-quase-rural, o evento não foi muito agradável. Estava a
regar o quintal quando um animal castanho do tamanho de um coelho (ou seja, uma
monstruosa ratazana) se mexeu. Em pânico, atirou-lhe um jacto de água para o
afastar, e só nesse momento aprendeu que o rato foge mas a ratazana ataca. O
monstrinho veio na direcção da água – e, portanto, na direcção de EcoFemina,
que perdeu as estribeiras, guinchou que nem criatura rosa choque, fugiu do
quintal, fechou o pátio, as janelas e até as cortinas – não fosse o monstro
ficar à espreita do outro lado. Após profundo monólogo com rasgos de emoção
raivosa, durante o qual se questionou sobre a porra do motivo de uma pessoa
sair da cidade, viver no frio, mandar sementes à terra e apanhar ratos em
troca, uma ideia mais iluminada ocupou-lhe o pensamento. E que tal começar a
deixar comida para os gatos vadios? Cheiro de gato afasta rato, sem venenos,
sem gaiolas, potenciando o equilíbrio ecológico!</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">EQUILÍBRIO ECOLÓGICO: estado dinâmico em que as funções e
necessidades dos seres presentes se complementam e controlam recíproca e
harmoniosamente. Exemplos: as flores chamam insectos com funções tão preciosas
como a polinização, mas alguns insectos em demasia destroem as plantas – os pássaros
vão controlando o número de insectos alimentando-se deles; surgem roedores sem
que se perceba qual a sua função, mas a presença dos gatos afasta-os – até que
um dia, expressando a sua admiração, os gatos caçam roedores e dedicam-nos a
EcoFemina, que se enoja profundamente e deixa de perceber outra vez o que é o
equilíbrio ecológico.</span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">EcoFemina não é aquela mulher robusta tão resistente como o
próprio campo – não, fica com alergia a cada vez que mexe na terra. Também não
é a deusa do mistério natural de produção – só aprendeu a diferença entre erva-cidreira
e urtiga porque lhes tocou com os dedinhos e uivou que nem um lobo, e a mulher
não é lobo, e quando uiva parece improvável que queira ligar o seu chakra à
energia universal, liga-se antes à dor universal de quem faz o que não sabe.
Mas felizmente existem plantas aromáticas mais resistentes que as intempéries e
que mostram a EcoFemina como é fácil reproduzi-las. Ela aprende e vai
avançando, errante e coxa. Procura recolher as sementes para plantar noutra
altura, pensando na tia Vandana, mas sendo-lhe difícil chegar à espiritualidade
da questão. A lição ancestral é conhecida: desrespeita-se a natureza e
desrespeita-se a mulher, se as duas lutas se unirem poderão ganhar uma força
imensa. Uma grande incursão produtiva, entre sementes e barrigas. Plantas que
nunca são iguais, mesmo dentro da mesma espécie, e mulheres que procuram ter
lugar para as suas diferenças. É em geral neste momento que um insecto entra na
luva e pica EcoFemina.</span></div>
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-70028744294933935422013-04-06T00:14:00.003+01:002013-04-06T00:15:29.974+01:00Sair de casa,<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">fugir e chegar a casa.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Sentir assim, monstruosamente,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">com o dentro que recorda que estamos aqui.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Quem poderá dizer adeus em terra firme?</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A terra mexeu-se.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A calma envergonhou o vento.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Ele não voltou a espalhá-la.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Paredes levantadas, sonhos mais altos.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Procedemos ao seu sufoco com a maior ternura do mundo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">"Lá fora corremos com a brisa", disse-me.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Sonhar a praia.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Apagar o sonho,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">viver o cómodo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Prolongar o praticado até à exaustão</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e - o espanto! - um dia</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">sair de casa,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">fugir e chegar a casa.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">28-03-2013, </span><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">Bolonha</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-20792566833706470402013-04-04T23:15:00.000+01:002013-04-04T23:17:00.247+01:00Pendulares somos nós<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">os que se beijam intermitentemente nas garagens de camionetas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">os que se beijam melancolicamente nas estações de comboios</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">os que se beijam de alma sabe-se lá como nas passagens de hospital</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Pendulares somos nós</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que nos beijamos sempre, em movimento,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">em cadência, em risco,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">em esperança, em vão</span><br />
<br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Pendulares somo nós</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que calcorreamos parte do mundo</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">criando laços, abraços, melancolias</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e melodias infinitas</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">quais fundos de novos beijos</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Pendulares somos nós</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que beijamos perdidamente</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e que choramos cada movimento de beijo perdido</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: xx-small;">17-03-2013, Porto</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-17914538186331360832013-03-06T21:04:00.000+00:002013-03-06T21:05:31.327+00:00Não-foto tipo realista <span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Na Avenida da Liberdade estava uma senhora com carteira de marca, chapéu distinto, saia pregada e collants cosidos e rotos em vários sítios. Foi, provavelmente, uma das presenças mais verdadeiras que encontrei.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A verdade daquela senhora incluía tanto a maquilhagem irrepreensível quanto os buracos inusitados pelas pernas fora. É ela, a Avenida da Liberdade. A Pans&Company das senhoras em casacos de pele. Vi-a no momento esquisito de não saber em que língua pensava, ao regressar das aulas de italiano pela Salitre fora, chegando ali. Ando sem perceber ao certo o que é Lisboa, mas aquela é a sua avenida central, a mais poluída, traficada e percorrida das vias alfacinhas, com o terno nome de Liberdade.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Uns metros antes da senhora estavam alguns jovens a pedir contribuições para ajudar cães de rua. Mais acima, um labirinto de caixas de cartão - casa à porta de uma loja vazia, o lugar (de dia desabitado) de um sem-abrigo da zona. Mais abaixo há muitos teatros, restaurantes e hotéis finos, na outra margem surge até a loja do cidadão. Nos intervalos, entre semáforos e segmentos de verde, metálico e pedra, há várias lojas, sobretudo sem preços na montra.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A Avenida da Liberdade é o realismo na performance de Lisboa. O luxo vazio mas central e de pobreza à porta, o fumo da imensa passagem, o pedaço-jardim arranjado, as meias rotas. Aquela senhora, de costas mais direitas que as minhas, era do mais verdadeiro que há. As pernas estavam inchadas e pesadas. Subiu uma escada rolante à minha frente, não a fotografei. </span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-86611362303373978822013-02-17T21:14:00.002+00:002013-02-17T21:15:51.308+00:00Falta primavera<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">nos olhos nublados e frios,</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">na tempestade indomável como a alma</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">e na alma das coisas que a não têm.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Faltam estações além das de comboio,</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">estruturas circulares onde uma pessoa vai e volta</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">como aqueles suspiros que podem repetir-se na manhã seguinte.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Há demasiadas máscaras para tão maus actores.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Muitos actos para um guião subdesenvolvido.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Escasseia o sol na pele morena empalidecida, </span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">tanto que por mais que a água nos espelhe</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">pouco ou nada reflecte em brilho.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Tornámo-nos pálidos e baços, </span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">trupe anémica engolida em lã.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Bendita primavera das doces flores,</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">aproxima-te e leva o turbilhão de vento</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">que ele levará o grito adoentado</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">que por sua vez surgiu da revolta inactiva.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">As pessoas estão cansadas, primavera.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ombros nus desejam abraçar-te.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-88213978039286484802013-02-12T14:22:00.000+00:002013-02-13T15:30:58.516+00:00Sobre a mulher-propriedade<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">"Quando duas categorias humanas se acham em presença, cada uma delas quer impôr à outra a sua soberania; quando ambas estão em estado de sustentar a reivindicação, cria-se entre elas, seja na hostilidade, seja na amizade, sempre em tensão, uma relação de reciprocidade. Se uma das duas é privilegiada, ela domina a outra e tudo faz para mantê-la na opressão. Compreende-se, pois, que o homem tenha tido vontade de dominar a mulher. Mas que privilégio lhe permitiu realizar essa vontade?" (Beauvoir, 2008: 99)</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Beauvoir conta-nos que, do período agrícola até à actualidade do seu ensaio, é possível interpretar um conjunto de visões sobre a mulher. Nessa evolução há um carácter relativamente estável: a mulher-propriedade sob domínio do homem.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">1. A mulher que desempenhava o trabalho campestre permanente, já que ao homem cabia o trabalho ocasional de defesa, caça e pesca.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">2. A mulher que se reproduzia, desempenhando um papel protector e nutritivo, podendo tornar-se autónoma mas não se bastando dessa estagnação natural enquanto espécie; a mulher dá a vida, mas o homem é-lhe superior já que é ele que arrisca a vida na guerra.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">3. A mulher na visão da posteridade: o seu papel biológico vê-se subjugado ao valor da propriedade (privada) em transmissão entre gerações; a mulher que procria para criar herdeiros.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">4. A mulher serva de senhores, simultaneamente reprodutora e cumpridora das tarefas domésticas, que é subordinada pela exaustão e, mais tarde, pelas instituições.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">5. A mulher do mistério produtivo (na concepção e nas colheitas) e o homem que passa a superá-la no domínio da técnica, no aparente controlo sobre a natureza.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">"Assim, o triunfo do patriarcado não foi nem um acaso nem o resultado de uma revolução violenta. (...) Condenada a desempenhar o papel do Outro, a mulher estava também condenada a possuir apenas uma força precária: escrava ou ídolo, nunca é ela que escolhe o seu destino" (Beauvoir, 2008: 118). O pacifismo (com momentos e situações pontuais de excepção) da mulher-propriedade enquanto dominada (propriedade de outrem) e da mulher que se dedica à propriedade terrena constante (trabalho doméstico, no campo, na criação dos filhos).</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Venha um salto no tempo, mas recomendo que leiam a retrospectiva histórica e filosófica de Beauvoir. Passo aos dias que acompanharam o meu crescimento. Os dias em que os nascidos quando "O Segundo Sexo" foi escrito já eram adultos e, por vezes, pais. Já evidenciavam a alteração de estatuto da mulher, a emancipada que pode viver autónoma (ainda que com rendimentos inferiores aos do homem), divorciar-se, votar, cometer um crime e ser julgada como pessoa (reduzindo a imputação de género na justiça). Tudo isso foi escrito e por mim lido. O resto partiu da observação do jogo escondido, das legitimidades em acção que permeavam as relações de quem fui conhecendo.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Crescemos sob matriz judaico-cristã, tantas vezes não apenas ao nível de valores como também sob a mão prática da religião institucionalizada. A obediência era conveniente e um dos meios rápidos de a conseguir era face ao medo patriarcal da autoridade: medo do pai, medo do polícia, medo do director e até, imagine-se, medo do papão (significado do escuro, do que não vemos; já as bruxas podiam ser vistas e causavam bem menos receio). A consequência da não obediência tornava-se, assim, previsível: punição por mão grande, por voz grande, por aqui que não vislumbramos e, por isso, não podemos enfrentar.</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Garantir o desequilíbrio e a falta de reciprocidade através do privilégio da parte dominante - tática imediata e eficaz. O que nunca entendi foi que tantos pensassem ser directa a relação entre medo, obediência e respeito ou educação. Pois se uma criança, crescendo em homem e mulher, aprende a ser propriedade do medo e seus detentores, como poderá emancipar-se sem fugir ao pacifismo da sua dominação? Legitimando a sua vida adulta como novo papão? Criando um matriarcado violento como o exemplo patriarcal em que cresceu ou que foi observando em quem rodeava? Simulando a violência emancipatória e continuando a legitimar, nas escondidas de quatro paredes, ser propriedade de outrem?</span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não creio que a dominação homem-mulher esteja muito afastada do que se legitimou, ao longo dos anos em que cresci, sobre a suposta superioridade de adultos sobre crianças, de padres sobre praticantes e outros religiosos, de patrões sobre empregados, de professores sobre alunos, entre outras dialéticas em que a autoridade pode passar a autoritarismo num piscar de olhos e a legitimidade continua a abraçar a vida dos primeiros. Creio, por outro lado, que se a parte humana se sobrepuser à parte proprietária - a pessoa que é e cresce, acredita, trabalha e/ou estuda, vive - ganhamos nova hipótese de reciprocidade na luta partilhada do desenvolvimento. </span><br />
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Aquela que se recusa a ser propriedade de outrem e até, imagine-se, que luta para não ser propriedade das suas propriedades terrenas - materiais (casa) ou de vontade do seu espírito activo (papéis que se atribui no trabalho ou activismo, por exemplo), não passa de mulher a fêmea; cresce e abandona o seu lado mais objecto no sentido do de sujeito, de algo que supera o seu imediato ou futuro previsto. Existir supera essas propriedades. Existir como mulher requer mais luta que a média.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-3903979026038375912013-02-07T15:44:00.000+00:002013-02-12T15:35:34.926+00:00Sobre a mulher agradável que tem (vergonha de) um corpo<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Sento-me ao sol no pátio caótico que demorarei a arrumar. Apoio o caderno n'«O Segundo Sexo [I]» de Simone de Beauvoir, ao qual regresso uns bons anos depois de o ter encontrado. Falta uma semana para dia 14 de Fevereiro, dia V - não só de S. Valentim, será também dia de reivindicação mundial pelos direitos das meninas e mulheres. Sugerindo uma semana de reflexão sobre estes V-direitos, começo por pensar no direito ao corpo.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Creio ser universal a visão de que o corpo é um direito - da atribuição divina de um corpo para existência terrena até à consideração do corpo enquanto locus de marca no correr do tempo; o corpo que materializa a vida, o corpo que caminha, o corpo em que o caminho se tatua, o corpo que morre por natureza ou desígnio. A questão não será se o corpo é um direito; é mais: o corpo é um direito de quem?</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A resposta verbal pode ser mais imediata que a resposta vivida. Não tenho qualquer dúvida em trazer para as letras: o direito sobre o corpo é detido pelo próprio, pela pessoa-corpo-espírito-mente que o vive. A dúvida surge na retrospectiva: será que sempre confiei nesse meu direito e nunca o desrespeitei, emprestando-o à voz e acção dos outros? Não, nem sempre assumi esse direito.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Não creio que se trate somente de um problema feminino, mas sim de uma questão generalizável a diferentes grupos potencialmente mais vulneráveis. Quando se coloca o problema do direito sobre o corpo, o meu primeiro pensamento recai sobre as crianças. Que direitos lhes atribuem as estruturas colectivas no que toca à sua salvaguarda corporal? No caso português, estatutariamente, muitos direitos lhes são atribuídos e reconhecidos. Pude observá-lo na legislação sobre serviços sociais para a infância e seu atendimento educativo, há uns anos atrás. Mas do espectro legal à realidade praticada há sempre espaço de viagem, e a viagem pode tornar-se particularmente tortuosa nos espaços mais escondidos: a criança dentro da sala, a criança dentro de casa, a criança onde pode não ser vista. E aí não haverá lei que nos salve; para esses lugares escondidos, acredito que a única salvação é rever o que é ou deixa de ser legítimo na nossa acção.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A violência ainda é legítima. A repreensão física sobre quem não tem estrutura possível para responder, ainda que actualmente tenha menor aceitação, continua a ter muita. A formação do respeito ainda se confunde muito com a criação do medo, seja por meio físico ou verbal. A educação é imprescindível e ainda não se domina a sua versão respeitosa, assertiva e não violenta. A família e a escola são geralmente os guardiões do direito sobre o corpo das crianças e muitas vezes não sabem salvaguardar esse direito, desprezando até a voz da própria criança. O seu corpo, através do qual aprende ao explorar o mundo, torna-se no primeiro saco através do qual duvida sobre a dignidade da sua pessoa.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O corpo vergonhoso surge muito cedo. Rapidamente as crianças se apercebem que dizer magro, gordo, caixa de óculos, perna longa, perna curta, marcado, descabelado, juba de leão, olhos tortos, dentes esquisos [e por aí fora] tem um impacto nos outros. A partir daí agem e reagem, são mais ou menos legitimadas e reforçadas pelos adultos que as rodeiam, resolvem ou deixam por resolver uma série de questões. Mas, enquanto crianças, ficam tendencialmente na versão parcial da resolução - ao não deterem e dominarem o direito sobre o seu corpo, estes dilemas (sobretudo se surgirem num contexto de pouca confiança própria) perpetuam-se na atribuição da resolução ao outro. Uma pessoa será bonita, inteligente e agradável se o outro a reconhecer como tal.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O "agradável" foi posto de propósito para abordar a questão feminina. As mulheres não são crianças grandes, mas a imputação do "papel agradável" faz com que muitas vezes se assemelhem na infantilidade emotiva ligeirinha que se lhes legitima. Dizia Beauvoir sobre Stendhal: "Esse terno amigo das mulheres, e precisamente porque as ama na sua verdade, não crê no mistério feminino; nenhuma essência define de uma vez por todas a mulher; a ideia de um «eterno feminino» parece-lhe pedante e ridícula. «Pedantes repetem há dois mil anos que as mulheres têm o espírito mais vivo, e os homens mais solidez; que as mulheres têm mais delicadeza nas ideias, e os homens maior capacidade de atenção. Um basbaque de Paris que passeava outrora pelos jardins de Versalhes concluía, do que via, que as árvores nascem podadas.»" (p. 337). A mulher agradavelmente podada é a que responde aos mitos do feminino: é a carne da natureza, simultaneamente húmus e beleza sensível, detentora das chaves da poesia, mediadora entre o natural e o sobrenatural, votada à imanência passiva da distribuição de paz e harmonia, o outro que serve à realização do homem (palavra de Beauvoir). Além destas versões da mulher, há a fêmea.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Queria falar sobre o corpo. Creio que o corpo reflecte as mesmas categorias da mulher agradável. O corpo agradável vai tendo standards diferenciados, já foi mais arredondado, agora é emagrecido, relativamente alto e sob a moda do étnico - não importa só a barbie 34 loira branquinha, também pode ser africana ou asiática e de tonalidades variáveis. Mas, seja como for, terá de ser consciente sobre a sua carne: revelando-a ou escondendo-a na noção de que isso pode provocar acções de realização por parte do homem. Domando o corpo para que diga "sensível" ou até "transcendente". Passar de fêmea a feminina.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A vergonha começava por ligar-se à não conformidade com o standard 34 simétrico, com a bacia que não encaixava na forma pretendida para as ancas, com a dificuldade de concretização física de algumas actividades e a exposição que daí derivava. Somavam-se cicatrizes tatuadoras de muitos momentos e actividades hormonais desconcertantes. Falo da minha vergonha. Do facto de só ter conseguido comprar uma saia curta em 2007, três anos depois de começar este blog, e de ainda hoje só a conseguir usar com meias opacas, "para que não se veja". Falo da dificuldade em sair à rua com um decote, "porque é tentador" - e quando alguém manifesta a tentação fico tão desorientada que o corpo entra em colapso, viro costas, volto a casa, troco de roupa e saio de olhos no chão. Nestes momentos, não respeito o direito ao meu corpo. Contribuo para a paz violenta, aquela em que os olhos alheios nos controlam e depois fica tudo calminho. Contribuo para a poesia do silêncio improdutivo, aquela poesia que na realidade se basta em rimas cruzadas e sempre consoantes.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Vivo num país que faz parte dos 199 países que dia 14 se levantam para dizer "viva a mulher" e não "vergonha de mulher". Sugiro que todos/as o celebrem e se coloquem alguns "e se?". Por exemplo: e se não caísse na tentação de dizer à pessoa aqui ao lado "assim estás bem, fica-te bem"? É que isso pode querer dizer que antes estava mal - da mesma maneira que dizer "hoje estás particularmente elegante" não nos deixa pensar que alguma vez não estivemos bonitos/as - isso é-se, não se está. E se repetíssemos que o corpo faz parte de um conjunto mais vasto e autónomo, não sendo um vegetal que aguarda acção externa? Talvez a diferença mentalizada entre homem e mulher se tornasse não tão mais que um conjunto de diferenças corporais - sobre isso, como sobre a personalidade e o espírito activo, somos livres. Quando a soberania individual sobre o corpo for real, o abuso sexual será uma miragem longínqua. A legitimidade é uma coisa construída e temporalmente relevante; sugiro que se deslegitime a violência e que se legitime a soberania </span><span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">sobre o corpo. Já perdemos tempo demais.</span><br />
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Simone de Beauvoir (2008) <i>O Segundo Sexo</i>, Lisboa: Quetzal (ed. original 1949)</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-72066322596954844202013-01-29T12:31:00.001+00:002013-01-29T12:31:13.934+00:00Poetrindade<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Há anos que não sou atingida pela bendita trindade da poesia: palavra doada, empenho e musicalidade. Um dia talvez volte lá.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A quem possa querer ir espreitando poesia portuguesa: <a href="http://portodeabrigo.do.sapo.pt/">http://portodeabrigo.do.sapo.pt/</a></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A quem pouco conheça poesia italiana, partilho algumas palavras semi-lascivas que ainda não me permitiram que as traduzisse. São tão da língua delas que traduzi-las me parece pecado.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>ti esploro, mia carne, mio oro, corpo mio, che ti spio, mia cruda carta nuda,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>che ti segno, che ti sogno, con i miei seri, severi semi neri, con i miei teoremi,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>i miei emblemi, che ti batto e ti sbatto, e ti ribatto, denso e duro, tra le tue fratte,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>con il mio oscuro, puro latte, con le mie lente vacche, tritamente, che ti accendo,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>se ti prendo, con i miei pampani di ruggine, mia fuliggine, che ti aspiro, ti respiro,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>con le tue nebbie e trebbie, che ti timbro con tutti i miei timpani, con le mie dita</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>che ti amano, che ti arano, con la mia matita che ti colora, ti perfora, che ti adora,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>mia vita, mio avaro amore amaro:</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>io sono qui così, la zampa del mio uccello, di quello</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>che ti gode e ti vigila, sono la papilla giusta che ti degusta, la pupilla che ti vibra</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>e ti brilla, che ti tintinna e titilla: sono un irto, un erto, un ermo ramo, io che</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>ti pungo, mio fungo, io che ti bramo: sono pallida pelle che si spella, mia bella, io,</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>passero e pettirosso del tuo fosso: io la piuma, io l'osso, che ti scrivo: io, che ti vivo:</i></span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">(1., L'ultima passeggiata, 1982, Edoardo Sanguineti)</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-50748848544334210012013-01-16T10:42:00.001+00:002013-02-12T15:36:13.505+00:00Bello essere Habesha!<br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Caros amigos, colegas, familiares e companheiros ainda desconhecidos,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">criar um filme documentário em Itália em 2012 (e produzi-lo entre Itália e Portugal) não foi o desafio mais fácil, como se pode imaginar. Mas nós (Akio Takemoto, Enrico Turci e Inês Vieira) decidimos tentá-lo apesar de tudo, sem financiamento, com pouca experiência mas com muita paixão. O resultado é "Bello essere Habesha", sobre as comunidades etíope e eritreia em Bolonha, Itália: </span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/Y9ZiADQsp1A?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Decidimos não ceder aos elementos adversos que emergem inevitavelmente quando nos propomos criar um documento audiovisual. Tentamos também não ceder àquelas forças que tenderiam a pôr-nos atrás de uma secretária, a trabalhar sem gosto e com rendimentos complicados. Resumidamente, decidimos que nesta vida gostaríamos de continuar a divulgar a nossa investigação, a fazer documentários e até outros filmes; e esperamos que concordem connosco que o mundo ainda precisa destas iniciativas.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O que vos pedimos não é dinheiro (nós, "pobres idiotas"), mas simplesmente que partilhem pelas redes sociais ou por email o trailer deste documentário. Temos consciência de que possivelmente não iremos longe com a iniciativa – mas não há nada como abrir as portas das possibilidades.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Obrigado a todos e todas,</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Akio, Enrico e Inês</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">PS – Não disponibilizamos o documentário na totalidade visto que alguns festivais e competições exigem que os documentos audiovisuais nunca tenham sido publicados; mas aos que possam estar interessados ou apenas curiosos, poderão acompanhar o nosso blog (http://belloesserehabesha.wordpress.com) ou entrar em contacto connosco (belloesserehabesha@gmail.com) para saberem como participar ou organizar projecções do documentário "Bello essere Habesha".</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-17771333999938062752012-12-30T03:41:00.000+00:002012-12-30T03:41:04.593+00:00O ano será novo,<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">dizem "eles". <strike>Por mim seria</strike> Farei por que seja um ano </span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">1. de magia, em que se possa sonhar muito, dizê-lo em boa voz ou segredá-lo ternurantemente a um saquinho de sonhos, bem como procurando atirar uns pós encantados para ajudar aos sonhos de quem nos rodeia;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">2. de mimos, porque sim;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">3. de lealdade àquela mão cheia de amigos gigantões e de abertura para novos amigos que possam surgir, sem esquecer a tanta gente deliciosa que nos vai acompanhando;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">4. de birra - entenda-se o seu nobre sentido italiano e a promessa de que continuarei a trabalhar para conseguir beber bem cerveja, acompanhada de mais saídas, se possível;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">5. de crescimento, e esta quase que é batota e está cansada, vem à baila todos os anos;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">6. dos clichés que fazem a vida: paz, amor, saúde e boa comida;</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">7. de esperança, a ver se a harmonia lúcida volta a reacompanhar tanta gente boa.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Pegue-se nos votos de cada um e faça-se por isso. Que não dure apenas uma noite, se não for esse o sonho. E, se só houver uma noite, que seja plena *</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9131541.post-12778687328128985832012-11-07T13:55:00.000+00:002012-11-07T13:55:03.228+00:00Há nomes que foram gastos<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">e Sara foi o primeiro. Teria feito anos em Setembro, esqueci-me pela primeira vez.</span><br />
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O adeus ultrapassa-nos.</span>rebelonyahttp://www.blogger.com/profile/17019077704231793354noreply@blogger.com2