ou
sobre a incapacidade de reagirmos perante o desaparecimento (escrevi isto a 4 de abril de 2006. hoje, 19 de novembro de 2007, acabou aquela família. e, no meu vazio, as palavras que me vestem são as mesmas. incoerência e vergonha.)
durante a flecha do tempo que nos permitiu conhecermo-nos em estreita articulação com todos os sistemas, habituamo-nos a construir uma imagem do mundo que vai sendo redefinida conforme as incoerências que aceitemos. indago-me sobre os limites perceptivos de tal conhecimento. e, sobretudo, sobre a capacidade de reacção à percepção da nossa própria incoerência.
a incoerência pode ser multiplamente interpretada. se para mim é incoerente defender o valor da vida e, na prática, promover práticas desumanas ao se defender que certo património cultural deve ser defendido e preservado por ser um legado do desenvolvimento humano, para outr@s pode ser incoerente que eu perca tempo a escrever estas palavras e não vá assegurando uma prática proactiva pela assimilação desse mesmo valor da vida. e, no seu âmago, provavelmente terão razão.
deparo-me agora, novamente, com o desaparecimento de quem promoveu a minha vida, se esforçou pela minha felicidade e cuja recompensa, imaginemos, foi a minha incapacidade de envolvimento sob o medo da transformação da imagem. o afastamento de situações problemáticas em seres que me influenciam desde as iniciais percepções da flecha do tempo, original da minha incoerência.