quando uma criança olha uma árvore caída, aparece um vermelhão sob os olhos e torna-se urgente um era uma vez. essa uma criança, de grandeza tal que se esconde entre os ramos, pode sonhar
era uma vez uma folha que voava muito. fazia muitas cócegas a um menino, ou pelo menos ele ria-se muito sempre que via a folha voar. enquanto foi pequenino, continuou a rir - mas quando cresceu mais que dois ramos, fez birra por não conseguir voar com a folha. não aguentou o vermelhão e chorou mesmo a sério. queria muito voar. a folha não lhe sussurrou o segredo e, num momento de maior mágoa, arrancou-a. aí fez silêncio. não percebeu se a árvore chorou, mas pegou na folha e escreveu
as poucas palavras que sei nunca cabem em lado nenhum.
outros meninos estavam escondidos entre ramos de outras árvores. foram àquela árvore e cada um arrancou a folha que melhor voava aos seus olhos. só que não sabiam escrever como o outro menino. fizeram uns riscos, como fazem nos desenhos japoneses, e juntaram as folhas todas. agora tinham folhas a esconder as mãos pequeninas, mas as cócegas eram diferentes; se as folhas voassem iriam para mais longe, talvez longe dos olhos. porém, quando as juntaram, criaram outra estória.
depois a árvore caiu.
centro galego de arte contemporánea, santiago 2009
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