segunda-feira, maio 02, 2005

o que sou esvai-se em traços.




esta era a minha parede lisa. a linearidade foi-lhe sugada por mim. agora sou eu que não sou nada, recta, de cor fria e uniforme. há tanto tempo que não tenho mais palavras ou traços... há muito tempo que não sei sonhar.
mas lá vou explorando o nada, o preto e o branco, a pose e a curva, num rodopio demasiado meu para que alguém o percepcione.


as árvores já têm folhas e das plantas já nascem flores. falta uma música e um gesto, um abraço daqueles que não me lembro ou uma mão a tocar-me a cara. mas de que adianta a falta que me faz o que não tenho?... não há e pronto.



o mostrinho da minha parede é meigo. só tem cabeça, não tem corpo. vive só de vez em quando, se alguém sonhar com ele. não tem cabelo, e é pálido. nunca lhe dei cor. eu nunca dou cor. mas tem uns olhos marcados e fundos, vê por mim aquilo que eu não vejo nem sinto. "sente o que eu não sinto em mim". é docemente irreal.

a realidade é azeda. amarga. ácida. não tem narizes pequeninos nem sonhos possíveis, orelhas grandes ternurentas ou doçuras no olhar.

o resto, é sonho*