segunda-feira, maio 02, 2005
o que sou esvai-se em traços.
esta era a minha parede lisa. a linearidade foi-lhe sugada por mim. agora sou eu que não sou nada, recta, de cor fria e uniforme. há tanto tempo que não tenho mais palavras ou traços... há muito tempo que não sei sonhar.
mas lá vou explorando o nada, o preto e o branco, a pose e a curva, num rodopio demasiado meu para que alguém o percepcione.
as árvores já têm folhas e das plantas já nascem flores. falta uma música e um gesto, um abraço daqueles que não me lembro ou uma mão a tocar-me a cara. mas de que adianta a falta que me faz o que não tenho?... não há e pronto.
o mostrinho da minha parede é meigo. só tem cabeça, não tem corpo. vive só de vez em quando, se alguém sonhar com ele. não tem cabelo, e é pálido. nunca lhe dei cor. eu nunca dou cor. mas tem uns olhos marcados e fundos, vê por mim aquilo que eu não vejo nem sinto. "sente o que eu não sinto em mim". é docemente irreal.
a realidade é azeda. amarga. ácida. não tem narizes pequeninos nem sonhos possíveis, orelhas grandes ternurentas ou doçuras no olhar.
o resto, é sonho*
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3 comentários:
*
Leio nas tuas linhas solidão.
E ao ler identifico o que sinto, também!
Agora penso que temos de recarregar as baterias no mundo, nos outros, de outra maneira estamos sempre em deficit de auto-estima. E os planos de contenção do deficit correm sempre mal.
Mas não é coisa fácil ser auto confiante!
Não acredito.... escrevo e não acredito no que escrevo. Não acredito no mundo! Nem sequer em mim mesmo....
há dias mais complicados para se recarregar, ou então é o mundo que já tem uma fila interminável de fichas ocupadas, até estar quase a fazer curto-circuito.
auto-confiança, que é isso? estamos no domínio do abstracto. faz de conta que eu não sou o que escrevo ;) é na base do teu último parágrafo, "escrevo e não acredito no que escrevo". um segundo depois, já foi embora... ou pelo menos é mais seguro pensar assim.
volte sempre, senhor anónimo *
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