tocaram-se imagens do que aparentamos
e esquecemo-nos de nos sentir
o vento deambula pelos teus cabelos
mal lhe tocas
mal me tocas
mal me quer
mal te quer
mas qual mal
qual desventura
qual ciclo interrompido pelas tranças da amargura
há por aí restícios
num fosso de lenha
lenha húmida
arde incandescentemente uma palavra tua
que agora somos palavras
e ao queimar faz muito fumo
muito
muito
até arder os olhos
só por isso choro.
há por aí restícios
no lampião partido
as cinzas baloiçam
ao colo da teia daquela aranha que fugiu dali
e sinto aquele prurido
comichão desconfortável
uma voz aos berros inaudíveis a dizer
“fugi”
foste com a aranha
e eu continuo aqui
há por aí restícios
subsiste aquela raiva
de não ter pernas para acompanhar os teus passos
perdemo-nos nos restos que nunca fomos
crentes num mundo que não conseguimos criar
ocorre-nos correr
gritar
gemer
morder
arranhar
ensurdecer
perder
louvar
derreter
mas por nada nos lembramos da pergunta,
aquela a que queríamos responder
quando demos a mão e partimos pelo tempo
vejo a marca dos teus passos
mas não sei para onde foste
há por aí restícios
pico-me numa rosa seca
o pico de tão seco não infecta
só arranha
arde sem doer demais
não é como a aranha que fugiu
e sou acusada de crime capital
por metáfora constante
em mim não há recurso à complexidade do objectivo
a polícia persegue-me
tentam sufocar-me os sonhos
forças repressoras do poder dominante
sem aparente mal
tiram-me a almofada
e a arma
arrancam desumanamente o imaginário
que injecto abusivamente nas veias
apelidam-me de contrabandista
ilegal
a sorrir, em estado tóxico
fora da lei do mercado
tento amar
há por aí restícios
feitos pólvora nas mãos do poder.
sofrer é censurado
voar é censurado
amar é censurado
há por aí restícios
e ao vê-los dou por mim a beijar a tua imagem
a mesma em que adormeci, bem enroscada
na qual não havia noite fria ou ladrões maus
vou com o vento
em lugar das cinzas
e tento ser censurada ao nível máximo.
é para isso que prevaleço
só por isso não padeço
mergulho nos restícios
e atiro-me dos precipícios
até que a censura me engula.
há por aí restícios
com o vento
a minha mão trémula
o meu corpo sonolento.
até que a censura me engula
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