És a minha biblioteca. Por mais que te invada, não te entendo em plenitude.
És plen@ de secções livres ou demarcadas, de curvas sublimes da tua inteligência. O pó não te esconde, és pouco velh@ – e por mais que passeie em ti não encontro o regresso do labirinto da tua essência.
O teu perfume não é de mofo, mas sim daquela musicalidade de folhas ante e pospostas que voam pelo vento das tuas janelas, e daquela cor de lombadas encarnadas de todas as carnes possíveis, e daquela rugosidade ténue de que se constitui a tua macieza.
O sol põe-se, e acende-se uma vela para te iluminar em pouca escala. Vestes-te de sombras várias – monstros, princesas, átomos, galáxias – e vives num escuro escondido, esperando dinamicamente que te explore mais uns segundos.
A tua imponência transparece à luz da vela, mais que à luz do sol. A lua mal te alcança, com medo que a explores em demasia... E, com algum receio, expões o arquivo morto e as estantes por organizar, as listagens caóticas, paradoxais à tua estrutura aparente e permanentemente vertical.
É aí que me deito, surpresa pela complexidade que sempre presumi em ti.
É nesse luar que transito, receando que me possuas com a tua imensidão.
É nessa vela que circulo, tentando iluminar os teus recantos.
É nesse arquivo morto que jazo adormecida, esperando ser acordada por alguns dedos macios – sob a forma de monstro, princesa, átomo ou galáxia.
Só varia o tempo
o sono
o estado
a luz disponível
o volume de páginas que me antecedem ou sucedem
o ritmo em que desfolham o livro (os livros?) em que estou inscrita
a ternura com que encaram a minha figura animal dentro da tua imensidão
a forma como me deixas perder em ti, no teu labirinto com saída de emergência imperceptível
Queria encerrar-te, não apresentas condições de segurança
... ou então deixa-me sentar ao colo dessa insegurança tão meiga
Nem tens as dimensões convencionais que permitam catalogar-te tal como às obras que te constituem
... mas deixa-me continuar a desfolhar-te
Nem os teus corredores têm luz suficiente
... mas queria voltar a percorrer esse labirinto, perdendo-me voluntariamente no frio das tuas estantes
Li nos teus manuais e aprendi a desconstituir-me. Já não sou o eu que aí entrou.
Por isso vivo para aprender a não ler, nem ver, nem cheirar, nem ouvir, nem tactear. Para não te reconhecer mais que o palco onde se encena a minha antítese.
Racionalmente designo:
quero viver a sentir.
Sem te tentar possuir
4 comentários:
Ai eu adoreiiiiiiiiiii...
Bjkas no seu coração amiga
texto mais perfeitinho.
tu, na minha biblioteca, fazes parte dos livros das coisas boa. daquele livro ainda nao acabado mas ja com algumas experiencias e recordaçoes.
obrigada por teres entrado na minha biblioteca um dia ao acaso. e por teres pegado, assim talvez sem te perceberes no livro da minha vida : )
beijinho*
GRANDA POESIA!!!ESCREVE MTO BEM.
Olá. Sou a bárbara (16) e gostava de pôr este fantástico texto colado na parede da biblioteca lá do meu liceu. Para isso ainda tenho de falar com as professoras responsáveis e, evidentemente, pedir-te autorização. se não quiseres, não tem importancia...
já agora, qual o nome com que assinas?
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