sexta-feira, setembro 30, 2005

tempo

mais uma divagaçãozita à custa de devaneios... desta vez, o mote foi "o passado é uma emboscada", intervenção de parede na praça filipa de lencastre


Estás pres@ no limiar da loucura

os teus olhos tecem pautas
subscritas em leituras imperceptíveis
quais amarguras
quais feitos incríveis
quais caudas
ou braços
ou pernas
quais traços
imperceptíveis como tu.

O passado é uma emboscada
e não há futuro de mão beijada

não há beijo sem golpe
não há melodia sem voz

e o presente...
somos nós.

Houve tempo
há tempo
lembras-te daquele suspiro
e daquele arrepio

E agora, frio
e daqui a pouco, novo arrepio

Ainda não aprendeste a ler
não consegues ouvir o calor

Olha! Uma flor...
tem cor de arco-íris.

Sussurra-te docemente
até te aproximares

sente-a, não a arranques.

Entre vozes estanques,
silêncio dolente

imensidão inatingível

sente o ininteligível...

Dói. Aperta.

Mas ainda há uma flor.

Pres@ no limiar da loucura,
ainda és feit@ de amor.

O passado é uma emboscada
e o presente azeda.

Que queda
do infinito...

Perdidos no imenso,
tão sós,
agora não há tempo...

Somos nós.

quarta-feira, setembro 14, 2005

benvindos à quimera do ogre

vagueio pelas ruas, vejo como a minha indignação não é só minha...
algures na travessa de cedofeita foi escrito na parede: "mas que bem laborais para a quimera do ogre!" ...com quanta razão...

eis o meu "pequeno" grito de indignação


Escorrem-me orações pelos braços
quais lágrimas azedas
quais crenças perdidas
em traços, nos meus braços,
labaredas
no fogo da razão, aos pedaços

como que existências irreais, desmedidas

Escorrem-me dos braços ao peito
no peito uma tontura

onde está a ternura?

no peito uma tontura,
um abraço perdido no tempo
toma o ódio como sustento
e suspira, escorrega

manchas vermelhas na vitrine
ecrã gigante da vida
perdida
desmedida
odiada e odiável
corpo ou espírito, nada moldável

Escorrem-me do peito para a cintura

onde está a ternura?

escorrem-me do peito para a cintura
em curvas e contracurvas quebradas,
acentuadas perseguições
cegas,
visões tristes, desenxabidas
de quem dispensa mais vidas

Sem delongas,
corpo e espírito em tortura

onde está a ternura?

corpo e espírito em tortura
suave tortura
corrosiva
fricativa
tortura mole, prolongada
ser morto servindo de espada
a batalhas ascendidas
corrosivas, fricativas
batalhas em nome código

só ódio
só ódio

batalhas em nome código
guerras sem nome próprio
olhos escondidos nas sombras
nos escombros
um grito abafado
sufocado por um pano podre

benvindos à quimera do ogre

dor sem fundo,
sem luta.

E uma nota solta, perdida
desmedida
adorável
incomensurável
te procura

onde está a ternura?

te procura
no mercado, na praça,
no convento das orações,
no campo, no rio,
no mar, na floresta,
na rua, na giesta

soa uma sirene
convulsões
tudo corre até ao pódio

só ódio
só ódio

tudo corre até ao pódio
onde jaz a alma, a tua vida
incumprida
desmedida
perdida

os teus olhos aí perdidos
brancos, deslavados
testemunhas coniventes
da tua destruição

não não
não não

e eu amo-te tanto…
amo a tua candura

onde está a ternura?

amo a tua candura
és branco de morto
branco de vazio
morto vazio e nada
só corpo
mais nada

grita, chora,
és espada
de uma batalha ascendida
perdida
desmedida
batalha errante contra a vida

exército de mortos operantes
corpos errantes
todos no pódio

só ódio
só ódio

belos de candura

onde está a ternura?

a vida a fugir-nos da mão

não não
não não

NÃO!

Amo-te com amor… não com ódio
desce comigo do pódio
vem para o chão ser humano
dá-me calor
dou-te ternura
doçura
amor