segunda-feira, outubro 13, 2008

sistema digestivo

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eu já engoli sofregamente o coração, a escada, o mundo, a viagem, a ilha, o eclipse, as rosas com o cavalo e, sobretudo, a Zoe e o Anjo... que delícia, obrigada
disse eu

ainda bem que pude contribuir para uma refeição tão poética
disseste tu

desta vez engoli o livro da dança, mastigo a reza na era da técnica e tento saborear mais devagar a perna esquerda de paris. tinha de o conhecer melhor
disse eu

e com que velocidade o mastigas... eu estou na fase de por vezes fazer dieta dele
disseste tu

certos livros devem ser degustados, outros engolidos, e alguns pouco mastigados e digeridos
disse ele

já a fazer leituras-encontros :)
respondeste

domingo, outubro 12, 2008

urgência

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Amigo, perdi o caminho. Eco: O caminho prossegue.
Há outro caminho? Eco: O caminho é só um.
Tenho de reconstituir o trilho. Eco: Está perdido e desapareceu.
Para trás, tenho de caminhar para trás! Eco: Nenhum vai lá ter, nenhum.
Então farei daqui o meu lugar, Eco: (A estrada continua),
Permanecerei imóvel e fixarei o meu rosto, Eco: (A estrada avança),
Ficarei aqui, ficarei para sempre. Eco: Nenhum se fica por aqui, nenhum.
Não consigo encontrar o caminho. Eco: O caminho prossegue.
Oh, os lugares por que passei! Eco: Essa viagem acabou.
E o que virá por fim? Eco: A estrada prossegue.



Edwin Muir (1887-1959, Reino Unido)

trad. Cecília Rego Pinheiro, in Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro, Assírio & Alvim