sexta-feira, julho 13, 2012

Sexta-feira treze

Um dia da semana, como os outros. Um dia de trabalho, de compras, de férias, de festas e funerais: às sextas-feiras treze cabe de tudo. Faça-se uma ressalva aos gatos pretos, daquele negrume encantador, que são quem mais sofre nestes dias mistificados. Dias em que a gente lhes põe espírito (aos dias, que os gatos têm-no de sobra).

Mas hoje é uma sexta-feira treze especial. Porque hoje faz anos que, numa terça-feira treze de mil novecentos e cinquenta e quatro, a Frida Kahlo morreu. Nesse mesmo dia abençoado pelo génio da força, entre cores fortes, o meu pai nasceu.

Foi numa casa pequenina das ruas do Porto que a avó o trouxe à luz. Tê-lo-á tido entre lençóis brancos, dias quentes e sorrisos de bebé novo nas carinhas dos cinco irmãos. Criou-o na força dos seus braços e no amor dos seus gestos, nutrindo-o de maravilhas cozinhadas em lume brando num pote de ferro.

Fez treze anos numa sexta-feira treze e nesse dia bateu com a cabeça numa esquina enquanto levava um dos recados de que era moço. Depois disso, foi moço de muitas outras coisas. Sobretudo de paixões e encantos. É de substância musical e a viagem também lhe corre nas veias.

Foi sentindo necessidade de aumentar a alma com gargalhadas de puxar a lágrima, pelo que vamos sabendo que de vez em quando os sinais de trânsito se trocavam nas ruas do Porto e que alguém delirava de contentamento ao ver as expressões atónitas dos transeuntes, sentado num café de esquina ao romper do dia. Noutros dias acompanhava a claque do Salgueiros aos jogos fora, mas em geral os desgraçados jogavam enquanto eles discutiam prognósticos e gargalhavam no café ali à beira.

A alma também cresce na luta e no amor, e em ambos tem conduzido uma vida muito grande. E eu sou simplesmente uma aluna meio desatenta que ainda tem muito a aprender, à qual as palavras fogem quando é para falar do maior pai. Mas as palavras vieram em grande parte dele, quando me ensinava as músicas do Zeca que ainda hoje dão sentido aos dias que o não têm. Também me ensinou a harmonia, fazendo-nos cantar a duas vozes. Ensinou a pertinência de alguma loucura e de encarar o difícil com força no coração, humor na cabeça e um sorriso acolhedor nos olhos.

Entre muitas outras coisas. Não está ao alcance do comum dos mortais experimentar os limites da humanidade, girar o mundo e sonhá-lo de novo, despir a camisa por quem mal se conhece e nutrir os amigos de alma com o melhor pão e o melhor vinho.

A gente pega na vida com mão firme e nunca se esquece que há sempre mais linhas por escrever. Uma infinidade de palavras, mesmo até ao infinito, dá-se uma curva e continua. Que há muita gente a querer escrever pouquinhas linhas, e talvez por isso o mundo se não tombe.



Parabéns, môr!