sábado, dezembro 31, 2005

na vespera de 2006

uma mensagem linda, de uma pessoa linda - Salif Keita, africano albino, vítima de duplo racismo -, de uma ética extrema. não só por África mas por todos os povos e seres do mundo...

"hapiness isn't for tomorrow.
it's not hypothetical,
it starts here and now.
down with violence, egoism
and despair, stop pessimism.
let's pick ourselves up,
nature has given us extraordinary things.
it's not over yet, nothing's decided.
let's take advantage of the wonders
of this continent at last.

inteligently, in our own way,
at our own rythm
like responsible men proud
of their inheritance.
let's build the continent of our own children
and stop taking pity on ourselves.
Africa is also the joy of livings,
optimism, beauty, elegance,
grace, poetry, softness, the sun,
and nature.
let's be happy to be its sons,
and fight to build our happiness."

Salif Keita, Dezembro 2001 (capa do cd Moffou)



que 2006 seja, também através da nossa acção, um ano de beleza, paz e amor. que a luta por uma maior justiça não esmoreça, e que as pessoas sejam cada vez mais humanas, sem medo da imensidão dos seus sonhos e capacidade de mudança...


poemas de amor e utopia para tod@s *

segunda-feira, dezembro 05, 2005

homo bibliotecus complexus

És a minha biblioteca. Por mais que te invada, não te entendo em plenitude.
És plen@ de secções livres ou demarcadas, de curvas sublimes da tua inteligência. O pó não te esconde, és pouco velh@ – e por mais que passeie em ti não encontro o regresso do labirinto da tua essência.
O teu perfume não é de mofo, mas sim daquela musicalidade de folhas ante e pospostas que voam pelo vento das tuas janelas, e daquela cor de lombadas encarnadas de todas as carnes possíveis, e daquela rugosidade ténue de que se constitui a tua macieza.
O sol põe-se, e acende-se uma vela para te iluminar em pouca escala. Vestes-te de sombras várias – monstros, princesas, átomos, galáxias – e vives num escuro escondido, esperando dinamicamente que te explore mais uns segundos.
A tua imponência transparece à luz da vela, mais que à luz do sol. A lua mal te alcança, com medo que a explores em demasia... E, com algum receio, expões o arquivo morto e as estantes por organizar, as listagens caóticas, paradoxais à tua estrutura aparente e permanentemente vertical.

É aí que me deito, surpresa pela complexidade que sempre presumi em ti.
É nesse luar que transito, receando que me possuas com a tua imensidão.
É nessa vela que circulo, tentando iluminar os teus recantos.
É nesse arquivo morto que jazo adormecida, esperando ser acordada por alguns dedos macios – sob a forma de monstro, princesa, átomo ou galáxia.

Só varia o tempo
o sono
o estado
a luz disponível
o volume de páginas que me antecedem ou sucedem
o ritmo em que desfolham o livro (os livros?) em que estou inscrita
a ternura com que encaram a minha figura animal dentro da tua imensidão
a forma como me deixas perder em ti, no teu labirinto com saída de emergência imperceptível

Queria encerrar-te, não apresentas condições de segurança
... ou então deixa-me sentar ao colo dessa insegurança tão meiga

Nem tens as dimensões convencionais que permitam catalogar-te tal como às obras que te constituem
... mas deixa-me continuar a desfolhar-te

Nem os teus corredores têm luz suficiente
... mas queria voltar a percorrer esse labirinto, perdendo-me voluntariamente no frio das tuas estantes


Li nos teus manuais e aprendi a desconstituir-me. Já não sou o eu que aí entrou.

Por isso vivo para aprender a não ler, nem ver, nem cheirar, nem ouvir, nem tactear. Para não te reconhecer mais que o palco onde se encena a minha antítese.

Racionalmente designo:
quero viver a sentir.

Sem te tentar possuir