ousam calcorrear a rua escurecida.
Fazem-no sem qualquer pudor ou audição,
compenetrados passo sobre passo,
como se a rua fosse apenas
extensão das suas pernas.
Quando muito,
dirigem a palavra à companheira do lado.
Vendo bem, quase só há companheiras
caminhantes nas ruas de Lisboa
às 5h30 da manhã.
Têm a pele escura
e seguem rápidas e acaloradas,
de chinelos e mangas curtas
e o cabelo entrançado ou preso.
Levam sacas na mão,
trocarão de roupa na chegada ao trabalho.
Pelas 6h o dia aclara
e há menos transeuntes no passeio.
Passam apenas carros e carrinhas.
O dia terá de aclarar ainda mais
para que pessoas mais claras
calcorreiem esta rua.
O dia aquece
mas elas trarão mais casacos e menos sacas.
Virão em passo mais lento,
aquele passo de quem usufrui
de um espaço já preparado.
2 comentários:
Cinco e trinta da manhã ser capaz de escrever um poema assim tão belo, é merecedor dum prémio Nobel dos avós: Um grande beijo.
:)
concordo com o orador anterior
:)
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