quarta-feira, outubro 19, 2005

pauta quebrada

...


Aquele velho ritual de prender um bocadinho de vento na mão
aquele vento que não se prende
que passa entre as folhas
e nos toca docemente
doce frio

Aquele doce quente de olhar o céu
aquele céu com nuvens
e das nuvens fazer cavalos
peixinhos que se beijam no mar azul celeste
bonecos que perdem as pernas pelo caminho
mas que voam
e vão abraçar-se aos bichinhos fofos
imperceptíveis aos olhares frios

Ode à liberdade de visão
hino ao poder de criação

Sermos deusæs
não para dirigir orquestras
mas para inventar novas figuras musicais

Vaguear pelo imenso
na vaga incerteza das coisas dadas
e com aquela infantilidade reprimida
soltar gargalhadas, fazer cócegas,
tocar o limiar da loucura

Deixar formas, criar laços
com o vasto aroma da liberdade
pintar sonhos
doá-los aos cantos do infinito

Cantar povos e lendas e amores
e recolher a apara do lápis
para que outr@s se enamorem
e se beijem
e nos cantem outros povos e lendas e amores

Sorrir com doçura de criança
ou amar sem pretensão de resposta
ou correr pelos campos brancos de pombas brancas

Imitar uma abelha
uma margarida
um pôr-do-sol

Ronronar num colo fofo
fazer cafuné à lua
tomá-la na ponta dos dedos e jogar berlinde

E aí abandonamos o medo.

O segredo é molhar os olhos
para que jamais percam o seu brilho
e acender o rastilho do sol
para que nos sirva de cobertor.



O resto é amor.

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