segunda-feira, maio 23, 2011

por não sabermos o tempo da despedida

.

Não, nem sempre sabemos quando nos havemos de despedir. Nem sempre atinamos com a pedra dura que não queremos que se nos coloque pela frente. Nem queremos acreditar que ela seja incontestavelmente esperada, mesmo quando nos oferecem um pré-aviso. E esse é um dos sinais da nossa beleza enquanto humanos - não queremos que o nosso mundo se despeça de nós, dignificamos a esperança pelo sorriso. Todos "os outros" tendem a perecer, mas os nossos dão sempre a volta. São os mais fortes, é incontestável. Nem sempre nos apercebemos de que a sua força também está na partida.

E ela parte-nos. Põe-nos aos bocadinhos sem percebermos como nem porquê, e encenamos a volta ao nosso teatro quotidiano. Encenamos a força que temos e que por momentos não nos encontra na plenitude. A beleza prevalece e a memória é tão incontestável quanto doce - e as palavras cómicas, meigas ou sentidas de quem parte continuam connosco até que possamos, noutro estado, voltar a rir ou discutir com quem nos habituou a fazê-lo.

Há quem opte por se ir embora da nossa vida. Também já o fizemos. Mas rói muito mais saber que alguns dos que mais guardamos se vão embora sem perceberem como convocar a despedida. Talvez nunca tenham ido mesmo e estejam em cada sorriso, em cada palavra e em cada alma cheia com que o nosso caminho nos vai presenteando.

Um mimo no coração de quem perdeu as palavras e os gestos presentes.
O resto há-de continuar cá dentro *

2 comentários:

Carmen disse...

Os meus amigos continuam presentes.
Quase diáriamente passam no meu pensamento e sem dor: P.Inácio Gomes, Fernando Rodrigues, Alfredo Almeida, Ana Maria Paupério, Dª Maria, Delfim, Laura, Sara, avós, tios, ... acrescentei agora Carlos Andrade.
Uns e outros, de alguma forma, estão algures a cuidar dos que ainda estão por cá.
Beijo

cadernodelinhas disse...

Estas duas belezas textuais, são-no pelo coração e sensibilidade que demonstram a quem vê. Outras belezas que já não se vêm como desejaríamos, realmente, conseguimos senti-las e vemos o que deixaram, não necessariamente visível. Beijo a vocês