segunda-feira, janeiro 03, 2005

no buraco da parede

em que me encontraste, deixei-te um recado. não o escrevi, só o deixei lá, para que o sintas, já que não me sentes.
dizia que lá ao fundo, onde os olhos queimam por não conseguirem albergar, há uma fonte com musgo. para quê, perguntas? pode ser para nada. nós já temos tantas coisas… tantas que levam ao desprezo de todas. é como com as pessoas, que também deixam de ser importantes porque são muitas. assim, se lá fores e escorregares, como aquilo não é para nada, ficas verde porque sim. só que, quando eu te vir verde, sei que isso aconteceu porque sim, mas foste lá porque sentiste o meu recado como não me sentes a mim.
se eu fico triste, não interessa. faz de conta que não sinto. se calhar nem sinto mesmo…

agarraste-me e sacudiste-me com toda a força, até ficar tonta e quase inconsciente. libertaste o que eu não sabia ter trancado dentro de mim, e deste-me parte da tua liberdade, também. até que ficámos os dois presos – eu segurava a tua vida e tu a minha morte. largaste-me já débil, mal conseguindo trepar a um novo buraco de parede. deixaste cair a faca que trazias na mão para me tirares a pele, teu sustento. as balas que tilintavam no bolso da tua camisa como que te trespassavam, justificando as lágrimas que te caíam. para quê matar-me? afinal era só mais um bichinho, e o sol iluminava o meu corpo nu para que tivesses a noção de que estava mesmo ali… puseste-me junto a um buraco de uma árvore e foste embora, eu a ver-te.

quando escorregares, pode ser que me sintas. ficas verde e voltas à parede, mas ao meu nível, ao meu lado, a dar-me o mimo que te quero dar a ti.


teimamos em fazer guerra quando ainda há tanto amor por fazer…



Um comentário:

Lampimampi disse...

Que lindo... :)
É pena vir de uma gaja horrorosa como tu!
AHAHAHAHAHAHAHA, tou a brincar, CLARO!!!!!!!!!!!!!
...meu pega-monstro preferido. :D
és a luazinha, nao esqueças!
bjoca

(cada vez gosto mais do que escreves)
;)