terça-feira, dezembro 21, 2004

as mãos

as mãos eram frias, pois limitavam-se a escrever. não conheciam o tacto das coisas, só o descreviam pela memória das outras partes do corpo. não sabiam distinguir as formas, pois não lhes encontravam utilidade. na verdade, apenas tocavam superficialmente no mundo, partindo logo para a sua explanação – sempre metafísica (que alternativas?).

houve um dia em que o frio do mundo era tanto, tanto, que as mãos tiveram de agir para não deixarem as palavras que escreviam cristalizar.
e então sentiram, tocaram, rasgaram, acariciaram, numa dança de corpos e mentes. e a dança não era só do seu corpo, nem era por ele que a faziam, mas sim por um mundo de corpos que todos os dias nos faz uma cama para podermos deitar-nos.

depois, o mundo aqueceu as mãos. contou-lhes, em surdina, que aquilo era o começo do seu calor, que não podiam deixar de agir, senão o mundo ficaria cada vez mais frio e duro, e, ainda por cima, contra a sua vontade…

as mãos começaram então a falar com os braços, a mimar a cabeça, a tocar o tronco e a sentir as pernas, e perceberam…

não estamos sozinh@s


2 comentários:

gandhiano disse...

São essas as mãos que unem e aquecem o mundo, o tornam um lugar quente e acolhedor para os nossos corações. Onde nos podemos sentar e olhar o Sol, desde que nasce até que se põe, para então dar lugar às estrelas e ao luar, que nos guiam e iluminam nos momentos de escuridão. :)**********

utupiar disse...

Pois não estamos sozinhos!!
Mesmo longe o sito!! :)