domingo, dezembro 05, 2004

Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal…

Este ano não sei bem o que te pedir. Queria tantas coisas! Será que poderias dar-me pelo menos uma? Ao equacionares essa hipótese, lembra-te que não deixei de te escrever em nenhum ano e que sempre te respeitei (apesar de não te compreender).
Então é assim: como já não tenho idade para pedir brinquedos – já passei à fase de os fazer ou comprar eu –, pensei em pedir-te roupa. Só que entretanto estive na rua (hoje está frio e a noite vai longa) e vi pessoas tão pessoas como eu adormecidas no cimento, tapadas com cartões. Concluí que a roupa que já tenho sobra-me e faz falta a outros. Para quê mais? Por isso, esquece.
Depois pensei em música. A cultura é linda! Preciosa para o meu bem estar!... e ao de uns tantos outros que gozam com a exploração do trabalho alheio. Fazes ideia de como tudo está ligado? Da Nestlé à Warner Lusomundo, a teia de ligações capitalisticamente perigosas para a sustentabilidade do nosso mundo??? Valha-me a pirataria!... E as lojas é que não escapam… Bem… é isso, não vale a pena. Esquece, também.
Entretanto surgiu-me a ideia de te pedir livros. A lista da escola vai em infinito + 1, não dá para os comprar todos… (nem ler… ups!) E para que tos pediria neste momento? O que eu vou precisando relaciona-se com um contexto de espaço e tempo, não se cinge a uma fase dita de “consumo habitual e justificado”. Sou uma apaixonada por livros, ok. Mas há tantos à disposição que ainda não li! Há tantas pessoas dispostas a emprestar-me obras novas, tantas bibliotecas por explorar… Deixa lá, Pai Natal. Fica para a próxima! ;)
Não preciso de meias ou cuecas. Nem de bijouterias, maquilhagem, perfumes e adornos que tais – para ser eu, englobada no espírito de fraterna verdade do Natal.

Por acaso, queria falar contigo sobre o espírito. Não quero interferir com crenças religiosas, não. Mas o espírito não devia ser de comunhão, alegria, fraternidade, reflexão? Então porque é que as pessoas andam por aí atarefadas a fazer compras insignificantes em vez de conviverem em paz? Porque se matam todos os dias para ver quem consegue comprar mais, em vez de se unirem como irmãos, companheiros, pares, similares viventes? Dá-se por se dar e não por significar? Bem sei que a intenção possa nem sempre ser má, mas onde ficou a reflexão? Guardada no mito? Perdeu-se nas férias? Fugiu para algum lado?

Quero pedir-te um sorriso sincero e um beijo terno. Um abraço de amor, um colo meigo e não uma cadeira de ouro. Uma palavra alegre e não uma acusação de crime por divergência. A capacidade de estar com quem me magoou e, não obstante, ver um arco-íris. De dar a mão, o corpo, a mente, a quem o faça também comigo. De espalhar a felicidade.

Pedi muitas coisas. Pode ser que saia alguma!...

5 comentários:

gandhiano disse...

Que lindo... deixas-me levar estas palavras comigo e soltá-las no mundo, a partilhar um pouco da felicidade que recebi com elas? :)********

rebelonya disse...

podes! leva a felicidade a passear e vai semeando alguma pelo caminho... depois, na primavera, vamos colhê-la! deve estar linda e em flor! :)

Anônimo disse...

..tb posso?


:
(tou eh um pouco viciado no chocolate de culinahria da nehstle, acho q eh um pouco de esperança q tb eles comunhem, ou então eh goluseima, ou ambas e eles comunharão em efectiva Acção)
:

abraço meigo
P

rebelonya disse...

;)
acho que tod@s podemos e devemos fazê-lo, não obstante certas preferências. (também como cereais da nestlé, faço compras em hipermercados e outros senãos que tais :p )
a felicidade que partilho é gratuita, quem a receber pode reflecti-la, expandi-la ou concentrá-la, não há pré-requisitos para que eu a transmita. o facto de tocar em alguém já justifica o meu acto. e tocar dois alguéns então é mesmo por-me nas nuvens :)
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Lampimampi disse...

Lindo, como sempre!
Também vindo do ti não esperava outra cena...
;)
bjinho